sábado, 22 de agosto de 2015

Campo Limpo



Por: Renato Luz

Domingo na praça. Ou seria domingo no parque?

Em uma das regiões mais periféricas da grande metrópole é dia de aparição. Não daquelas aparições de outro mundo, mas sim de gente de verdade que quer estar neste mundo, de corpo e alma.

Gente que, tratada como coisa descartável nas engrenagens capitais, tem sede de humanidade. Todo dia.

O abandono e os corpos se misturam por aqui. No chão, as inúmeras embalagens de doces, legais e ilegais, somam-se às bitucas e às tampinhas, já incorporadas à terra e à grama. Poucas lixeiras. Banheiro e bebedouros nenhum. Não há necessidades por aqui? Virtualidade demais para esta realidade.

Nesta paisagem urbana, fronteira da mesmice morta e do inesperado da vida, do lixo cultivado e do sorriso sedento, em mais uma tarde de domingo, aparecem as meninas brincantes.

Nas mãos, cordas, bolas, livros e tecidos. No coração, sonhos e a alma lúdica, a utopia no horizonte de uma cidade reocupada com inteireza e amor, com menos medos, menos grades. A infância resgata fazeres coletivos. E é resgatada.

Depois de limpo o campo, as crianças vão chegando, abelhas no mel. Cantinho da leitura, canções de pular corda, brincadeiras de roda, gritos e risadas. Na terra, o corpo solto, não o copo sujo.

Aqui, a esperança de uma outra cidade, colo do improdutivo e necessário brincar, a nos limpar por dentro. Aqui, campo limpo



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